Panorama: maio 2013

sexta-feira, 31 de maio de 2013


No dia da experiência



Daniel Silva


Naquela noite de terça-feira, 28, cheguei à Faculdade no horário que usualmente costumava chegar: 18h25min. Entretanto, aquele turno estaria longe de ser visto como habitual. A tomar pelo jogo de luzes que recobriam o prédio da instituição, a impressão inicial era a de que um grande evento metamorfoseava a casual atmosfera acadêmica. De fato, não era impressão. Era o dia da experiência na Faculdades Nordeste (Fanor).

E como bem nos explica a lógica do complexo de vira-latas, da proposta de um dia de experiências na faculdade temos o evento intitulado Experience Day. Em suma, trata-se de um projeto trabalhado pela empresa há mais de oito anos. Na ocasião, tanto alunos quanto o público em geral podem participar de programação que engloba atividades lúdicas, palestras, workshops e apresentações artísticas. 

É quando falamos de arte que desaguamos na minha experiência particular com o Experience Day. Antes, vale o registro cronológico de que ainda eram antes das 19 horas quando à faculdade eu já me encontrava. O fluxo intenso de pessoas entre secundaristas, pós-egressos e veteranos, todavia, não deixava dúvidas: o evento estava sendo exitoso. Ao menos assim parecia aos espectadores que faziam platéia à banda que cumpria o preâmbulo à palestra que Max Gehringer daria horas depois.

Mas não havia ido à Praia do Futuro em função do que o renomado consultor tinha a dividir àquela noite. Muito menos para ouvir o repertório couvert dos colegas que seguiram no palco até às 20 horas. Pelo menos essa foi a última vez que consultei o relógio antes de sair dos domínios da instituição. Eu tinha ido à faculdade para cumprir meu dever enquanto graduando. Foi quando às 19h10min encontrei, à sala 211, apenas eu comigo mesmo. Ninguém havia chegado ainda.

E nem chegaria. Sentado do lado de fora, fiquei até às 19h31. Mais uma conferida no relógio e cheguei à conclusão de que, naquela noite, não haveria aula. Mas por que as salas ao lado pareciam tão lotadas? E por que, de fato, havia tanta gente nas demais salas? Questionei-me antes de deixar em definitivo os domínios da instituição. E à medida que ia me afastando do prédio, após pouco mais de uma hora perambulando pelos corredores, o repertório da banda, que àquela noite arranhou do Balão Mágico ao Franz Ferdinand, foi se tornando, enfim, distante.

A Caminho do terminal de ônibus, o dia da experiência, pra mim, talvez não tivera a mesma conotação para quem conseguiu ficar até o final do evento. No dia seguinte, a história que ouvi foi a de que Gehringer chegou a chorar durante a palestra. Isso deve ter sido forte, confesso.

Fazendo o caminho inverso, terminei aquela noite entre as estantes de livros e DVDs da Livraria Cultura. As horas, ali sim, pareceram ter passado rápidas. E no retorno para casa, trazia eu em minha sacola “Uma mulher é uma mulher”, meu 16° filme dentro da videoteca que intento montar. Isso me leva à conclusão de que o dia da experiência, pra mim, encerrou-se com uma veia bem intimista. Tão banal e marcante como numa sequência de um Godard.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Gigante pela própria natureza




Sediado no Centro de Fortaleza, o Mercado São Sebastião é um equipamento público municipal administrado pelo Sindicato do Comércio Varejista de Frutas e Verduras de Fortaleza (Sincofrutas), reformado e inaugurado no final de 1997 durante a gestão do prefeito Juraci Magalhães. O estabelecimento funciona onde anteriormente funcionava o antigo Mercado de Ferro, inaugurado na segunda metade do século XVII, em 1897.


Mercado São Sebastião. Foto: Jonas Guedes.

Inicialmente, o mercado era dedicado principalmente ao comércio de frutas, verduras e carnes. Hoje, o estabelecimento, que fica alojado em toda a extensão da Praça Paulo Pessoa, conta com 449 boxes que comercializam artesanato, plásticos, raízes, descartáveis, materiais elétricos, ferragens, materiais hidráulicos e de construção. Possui também uma rede de lanchonetes que circundam todo o térreo e parte do 2º piso, além de farmácias, uma agência lotérica e estacionamento. Todos distribuídos em uma área de 22.538 m² dividido em subsolo, térreo e 2º piso.


Banca de frutas e legumes. Foto: Daniel Araújo.


Roupas também fazem parte do comércio do mercado.
Foto: Daniel Araújo.

Essencialmente miscelânico, o Mercado São Sebastião oferece uma enorme diversidade produtos e serviços, além de uma paleta diversa de pessoas, sejam essas comerciantes, transeuntes ou fregueses,  que ao longo dos anos vêm construindo a história deste imponente prédio.

Algumas dessas figuras se encontram há mais tempo no local, outras iniciaram as atividades a menos tempo – há meses em alguns casos. São variadas gerações que encontram nesse comércio uma forma de garantir alguma receita ou afirmar sua vocação de comercializar.

Essa predisposição aos serviços trouxe Diomésio Santos, 76 anos, para dentro do mercado. Veterano, ele conta que trabalha no ramo de frutas e verduras desde o final da década de 1950. Durante esse período, passou um tempo trabalhando no comércio da cidade de Camocim e resolveu voltar à capital em 1962 onde iniciara os trabalhos no antigo Mercado São Sebastião, conhecido pelos comerciantes como “Mercado Velho”.

Rememorando o tempo passado, Diomédio explica que o São Sebastião foi o primeiro mercado a comercializar legumes e frutas em larga escala. “Quando comecei a trabalhar aqui só havia o São Sebastião e o Mercado São José. Não havia grandes mercantis”, atesta.

Mesmo com o crescimento populacional e a consequente expansão das redes de supermercados na cidade, o comerciante acredita que o mercado ainda sobreviva por muito tempo devido a sua tradição. “O São Sebastião era e ainda é conhecido por boa parte da população. Nossos clientes são cativos e variam entre pessoas comuns ou até mesmo autoridades. “Aos domingos até o Roberto Cláudio frequenta o lugar. Por duas vezes o vi comendo panelada bem ali”, relata, apontando para o quiosque de comidas regionais.


Outras vozes

Há poucos metros das frutas e orgânicos de Diomésio Santos, há um pequeno corredor tomado por peças feitas de gesso e argila. Os utensílios são comercializados por Maria de Lourdes, 54 anos. Dona Leninha, como é conhecida no São Sebastião, trabalha com artesanato desde os 14 anos. Ela afirma que procura precificar os produtos de acordo com as suas especificidades. “Aqui o cliente pode encontrar jarros de R$ 0,80 a R$ 40,00”, exemplifica. Segundo ela, os cearenses ainda são o público que mais frequenta a “Casa do Artesanato” e adquire as peças vindas diretamente de Ipu, Cascavel e Aracati.


Gessos e Argilas comercializados por Maria de Lourdes. Foto: Daniel Araújo.


Gessos e Argilas comercializados por Maria de Lourdes. Foto: Daniel Araújo.


Produtos Naturais do box "Arara Azul".  Foto: Daniel Araújo.
Subindo ao 2º piso, em uma estrutura que conta ainda com subsolo e térreo, o letreiro acima da porta de acesso ao bloco C aponta: “Arara Azul-Produtos Naturais e Regionais”. No box de pouco mais de dois metros de largura e quatro metros de extensão é possível encontrar vários tipos de produtos naturais entre gêneros alimentícios e ervas medicinais.

Atuando como atendente na loja a pouco mais de quatro meses. Kelly Nobre, 32 anos, conta que o segmento alimentício é o mais  procurado pelos visitantes do mercado. “E pelo menos 50% deles são cearenses”, ressalta. Entretanto, a jovem não deixa de reconhecer que as condições do trabalho desenvolvido, não só pela Arara Azul, mas como dos demais comerciários, poderiam ser potencializadas caso a estrutura do prédio passasse por uma reforma.

A observação de Kelly não é caso isolado. A necessidade de melhorias fica evidente quando falamos de pontos essenciais. Em umas das escadas que dá acesso ao 2º piso do prédio notamos que a ferrugem já corrói boa parte da estrutura. Degraus e a base encontram-se seriamente comprometidos. “É preciso melhorar muito. Os banheiros, por exemplo, não são muito bons”, reforça a vendedora.

Mas se o mercado ainda possui desafios a superar, o espírito de cooperativismo entre os comerciários se sobrepõe como traço diferencial do equipamento. “As pessoas aqui são muito legais, desde o presidente até zelador”, pontua, entre um atendimento e outro que realizava àquela tarde.

Cumplicidade

Esse sentimento de cumplicidade é o mesmo que rege os negócios de Cosmo Praciano Paiva. Ele afirma que sua relação com o comércio, iniciada em 1963 só prospera devido à clientela. “Devo tudo a meus clientes porque são pessoas boas e agradeço a Deus por isso”, afirma fitando o cigarro em um tom de confidencia. Localizado no bloco C do 2º piso, o box do veterano comerciante traz à ala o toque regional com uma variedade de utensílios, ervas e produtos alimentícios.

E entre as esperanças e perspectivas dessas pessoas que personificam o mercado oficializando sua história na medida em que reafirmam as suas próprias estão o desejo de que anova gestão que se inicia apresente novas propostas de revitalização para o “velho gigante”. “O mercado precisa de uma reforma já que refazê-lo não seria possível. E toda obra tem de ser reparada senão cai, viu?!, alerta Praciano.


Segurança

A segurança do mercado fica por responsabilidade do Sincofrutas. Um segurança monitora a área durante todo o dia, garantindo maior tranquilidade aos trabalhadores. A noite, o monitoramento é ampliado, uns número maior de seguranças resguardam o patrimônio. Otto Bezerra, 22 anos, trabalha como segurança diurno do local há 4 meses. Otto conta que as ocorrências normalmente não são graves e nem com frequência. Além disso, a Guarda Municipal e o Ronda do Quarteirão estão sempre apostos para qualquer auxilio.


Altar de São Sebastião

Devota de São Sebastião, Dona Elita, que trabalha há 13 anos como supervisora dos serviços gerais do mercado, se reuniu com os comerciantes e juntos tiveram a idéia de construírem um altar em homenagear ao santo que dá nome ao estabelecimento. Fiéis, sejam eles comerciantes ou clientes, depois de suas orações e preces depositam moedas em um cofrinho ao lado do santo, visando à arrecadação de dinheiro para a Festa do Santo, realizada no local anualmente, no dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião.


Dona Elita posa em frente ao Santuário de São Sebastião.
Foto: Jonas Guedes.

O Mercado São Sebastião é um lugar onde as estórias de cada comerciante, cliente e visitante se entrecruzam em meio a uma proposta de oferta simbiótica dos serviços. A sua estrutura opulenta que se estende por volta de toda a Praça Paula Pessoa possui, de fato, a dimensão da proposta do equipamento.

Seja durante as manhãs ou tardes de nossa cidade, o velho Sebastião oferece soluções a quem busca fazer sua feira; uma aposta na lotérica ou comprar materiais de construção e todo e qualquer tipo de ervas medicinais, castanhas, mel, rapaduras e demais utensílios que possamos imaginar.  Mas aos que desejarem ir além do imaginário, mais vale a experiência de entrarmos nas entranhas desse “gigante”. Ele é nosso, e dele devemos nos apoderar.

Serviço

Mercado São Sebastião
Rua Clarindo de Queiroz, 1745- Otávio Bonfim
Telefone: (85) 3468. 1600


Por: Samily Sousa, Samara Veras, Kislianny, Jonas Guedes e Daniel Silva.

Os sentidos do Mercado


Foto - Carlos Silvestre

       As faces do Sebastião
       Edilane Pereira    


    Localizado no Centro de Fortaleza, entre duas das avenidas mais movimentadas da cidade, está ele, o gigante Mercado São Sebastião. Frutas, legumes, artigos religiosos, isso é só um pouco do que oferece o mercado, o local é um ponto de referência histórica e cultural da cidade, e traz consigo  a participação no desenvolvimento de Fortaleza.



Fotos: André Silvestre
Por volta de 1960, o São Sebastião situava-se na Avenida Duque de Caxias. Posteriormente, em 1997, o Mercado foi transferido para a atual localização, na Rua General Clarindo de Queiroz, 1745 próximo, à Avenida Bezerra de Menezes.



O mercado do cotidiano

 A correria do dia a dia, e a constante presença de tecnologia na vida das pessoas, parecem se perder no meio do barulho da multidão que enche o mercado. 

Lá dentro, facilmente esquecemos as horas. A variedade dos produtos e a simpatia dos vendedores somada à imensidão de cores, sabores, aromas e texturas do mercado encantam e aguçam a percepção dos sentidos.



Foto - André Silvestre
Atualmente, o mercado funciona de segunda a sábado, de  5h às 17h, e domingo, de 5h às 12h,mas a organização e a chegada dos comerciantes começa ainda com o céu escuro ,por volta das duas horas da madrugada. 
  São caminhões chegando cheios de frutas, pessoas separando a mercadoria e guardando tudo nas bancas, mas o movimento não é só dos carregadores não, nesse horário também chegam os compradores, é o caso de Manoel Duarte, 52, comerciante. Segundo ele, “Nesse horário as frutas e verduras são as melhores por que estão fresquinhas, assim como os pescados”.

Foto - mercadosaosebastiao.com



Quem anda pelo mercado

O Mercado é dividido em setores e galpões. Neles se encontram frutas, legumes, comidas regionais, ervas medicinais, peixes, carnes, artesanatos, utensílios domésticos, artigos para festas de aniversário entre muitas outras coisas.
Segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Frutas e Verduras de Fortaleza o (Sincofrutas), que desde 97, administra o mercado, passam por lá em média 6 mil pessoas em dias de maior movimento.
Entre esses visitantes está o público mais variado possível, são comerciantes em busca de produtos mais baratos, donas de casa fazendo a “feira”, turistas e pessoas que vem com a família para simplesmente passear pelos corredores coloridos e abastecidos do Sebastião.


Primeiras  impressões

Para a estudante de enfermagem Lêda Barroso, 32, que estava vindo pela primeira vez ao mercado, o espaço pareceu muito “aconchegante e tranquilo”. 

Foto - André Silvestre

A jovem, que estava acompanhada do marido Rafael Barroso, e do filho de cinco anos conta que nunca tinha vindo ao mercado, mesmo sendo cearense e passando por ele todos os dias no caminho para o trabalho. “O corre-corre do cotidiano nunca tinha me deixado vir, mas hoje eu vim conhecer e apresentar para o meu filho, é muito importante mostrar as crianças a riqueza cultural que a cidade tem e eu acho que o São Sebastião ilustra bem isso de ser cearense.” O marido de Lêda que já trabalhou próximo ao mercado lamentou apenas a falta de conservação no entorno do espaço. “Infelizmente, assim que chegamos vimos uma praça mal cuidada, e muitos menores usando drogas ao redor do local, fora isso esse mercado tem um visual maravilhoso.” Afirma.


Mulher macho? Não Senhor !

Entre os gritos masculinos e toda a rudeza do trato com as carnes, as mãos delicadas vão com muita velocidade e destreza desfazendo a panelada em pedaços. Muito calada, e instrospecta Joana, 28, formada em administração, vai aos poucos contando os motivos que a levaram ao Sebastião.


Fotos - André Silvestre
Meu pai sofreu um acidente, e há três anos tive que vir assumir o lugar dele aqui.” Conta. Ela para a entrevista para dar orientações ao funcionário e volta a responder os questionamentos em poucos instantes, sem nem ao menos perder a linha de raciocínio anterior.
“Você sabe que eu sou tenho nível superior né? Mas não penso em sair daqui não, vou dar continuidade ao trabalho do meu pai, que há mais de vinte anos está aqui, e vou passar para os meus filhos.” Afirma ela com orgulho.
Joana é uma das poucas mulheres que enfrentam a rotina do 1° piso do São Sebastião, o piso das carnes e peixes, dominado quase que exclusivamente por homens. Ela mescla a simplicidade do contato manual com a carne com a teoria aprendida nos bancos da academia.
“Eu amo as duas coisas, mas tendo que escolher fico aqui e levo o trabalho da minha família para frente.” Explica.


O som que toca no mercado 

  Olhar o mercado do segundo piso é ver muito. É ver além dos prédios ao redor, e dos pombos que permeiam a vista do céu do Sebastião. Olhando para baixo, vemos o movimento de pessoas indo e vindo, ouvimos os gritos dos mercadores em busca de clientes e a devoção de quem para e só por um instante eleva uma prece ao santo que dá nome ao local.

Foto - André Silvestre

Foto - André Silvestre

 







E no meio de tanta gente barulhenta o mercado vai se enchendo aos poucos do som no mínimo “clássico” do peruano Juan. Ele comercializa música de raiz, jovem e velha guarda, e vai embalando o ritmo lento e apreciativo dos que oram, e o fugaz tempo que corre para os que carregam mercadoria, e andam pelo gigante do Centro de Fortaleza. 

Foto - André Silvestre

Quase sem dificuldades  com o “portunhol”, ele fala que vende só música de qualidade, e que agrade a todo mundo que passeia por ali.



Vendo o Mercado sem realmente enxergar

André Silvestre
Foto - André Silvestre



 Seu Mário é pedinte do Mercado São Sebastião há mais de 20 anos. Desde a inauguração do modelo atual em 1997. Ele fica na praça sentado em frente a um ponto comercial, bem em baixo da passarela principal do mercado. Seu Mário conta que às vezes a sua esposa vai deixá-lo, mas também há situações em que ele precisa ir sozinho.


Foto - André Silvestre
O pedinte nos conta que, apesar da deficiência visual, não é difícil chegar ao mercado. Ele sente a quase centenária praça comercial do fortalezense, apenas pela calçada, através do meio-fio. “Vocês vê com os olhos e nós vê com a mente. Quando eu chego aqui no mercado, eu vou logo tocando no meio fio, sentindo o movimento, muitas pessoas falando, o barulho do mercado, num sabe? Relata.
Seu Mário diz que a maior dificuldade dele é a sinalização específica para cegos, que no mercado São Sebastião não existe. Um dos maiores desafios para o deficiente visual é a falta do piso tátil. Apesar de muito tempo andando pelo mercado, não é fácil enfrentar as irregularidades.
Mas mesmo com essas dificuldades, o idoso  diz estar num momento feliz. Ele já não consegue mais viver sem os desejos de bom dia das pessoas que transitam no mercado. O movimento, o toque na calçada da praça, as paredes do ponto em que ele fica sentado esperando a ajuda a qual agradece dizendo repetidamente: “Deus lhe abençoe, Deus lhe dê muita saúde”.
Seu Mário não enxerga, mas percebe e sente o que muita gente, que tem uma vista clara, não consegue. Uma delas é se aprofundar no que o mercado proporciona através apenas do toque.



Um olhar e mil histórias

Hadassa Cavalcante

Foto - André Silvestre



“No início, nada disso aqui existia. Esse lugar era uma praça chamada Paulo Pessoa e tinha um mercado, o mercado velho, que ficava ali onde agora é o estacionamento. O mercado São Sebastião como ele é hoje, tem uns 16 anos, mas já faz 44 que trabalho aqui, desde os tempos do mercado Paulo Pessoa.” Relata seu Toim.

O comerciante de 52 anos, chegou ao Mercado aos nove anos. Sua banca  de ervas medicinais é herança do pai, um farmacêutico vindo de Crateús. O comerciante aprendeu o ofício de “médico do povo” muito cedo, mas antes “pastorava” os carros da rua e com isso ganhava uns trocados.

“Um dia meu pai descobriu o que eu fazia na rua e me deixou de castigo num cantinho, disse que não era pra eu trabalhar. Foi um amigo dele que gostava muito de mim que pediu pra ele me liberar, ele me soltou e disse: Quer trabalhar? Ande na linha que você chega lá. E até hoje estou aqui.” Relembra o idoso.

É em meio a ervas medicinais, caixas, frascos e receitas que seu Toim ganha a vida, ensinando não somente dietas para curar o corpo, mas também as doenças da alma. Tristeza, raiva, alegria, solidão, tudo isso tem remédio, segundo ele, que apesar de não ter formação, nem diploma em medicina, sabe como ninguém as causas das doenças e o tratamento natural para elas. Ele mesmo prepara as misturas que vende e conhece exatamente cada uma delas, por exemplo, a FREBI, uma mistura para fígado, rins, estômago e bom intestino que custa por volta de R$ 10  e que tem muita saída. “Tenho clientes muito antigos, do tempo de papai, alguns até já morreram. Os outros que estão por aqui são clientes fiéis.” Afirma ele.

Os filhos de seu Toim não quiseram seguir a carreira do pai, trilharam outros caminhos, o que faz o orgulho do comerciante que confessa não ter obrigado nenhum deles a seguir seu ofício. “Eles são felizes no que fazem, e isso é o que importa”. Seu Toim é um dos muitos exemplos de guerreiros e guerreiras que ultrapassam as dificuldades e não esperam o sol nascer para batalhar pelo pão de cada dia. Entrar no mercado São Sebastião é adentrar em um mundo de histórias de vida, um mundo de lutas e conquistas diárias. Quem anda por seus corredores é abordado pela simpatia dos comerciantes, que atentos, não deixam a freguesia passar despercebida, sendo quase impossível sair de lá com as mãos e a mente vazias.



De muitas cores se faz um Mercado

Heliana Querino

Foto - Heliana Querino

Foto - André Silvestre


Os sabores e aromas ganham destaque num dos maiores mercados de Fortaleza, o Mercado São Sebastião. Não chega a ser como o gigante mercado Ver o Peso, maior mercado ao ar livre da América Latina, localizado no Pará. Porém, suas bancadas coloridas ganham destaque a cada metro quadrado percorrido pelos seus passantes.

Extensas galerias multicoloridas e pessoas dando voltas como formigas de roça.
 Escadas, paredes e chão. Algumas pessoas escolhem subir para o segundo piso, enquanto outras adentram ainda mais às entranhas do encantado.

Olham-se e olham tudo. Desembocam no subterrâneo onde existem inúmeras bancadas enfeitadas com formas de todas as cores – desde o vermelho doce da arredondada melancia até o amarelo ouro da banana, cores embaladas ao som de passos e pássaros, vozes, do tipo grito e cochicho, quase uma procissão.

O segundo piso destaca-se pelo verde-ervas o marrom-seca do nordeste, todo “amostrado” que nem cearense e o mel de abelha, tudo misturado, meio baião de dois ou três, em cores, cheiros e sabores.

É possível também encontrar figuras simples e dotadas de grande sabedoria popular. Seu Toim, 52, é umas dessas pessoas. Parece que nasceu ali. Passa o dia atendendo sua fiel clientela e diz: “É assim desde meus tempos de menino”.

O Seu Toim de início um pouco tímido, aos poucos se mostra como verdadeiramente é. Doutor em nada e em tudo ao mesmo tempo. Seu Toim sabe de tudo e entende e explica:
Vocês querem saber a historia do Mercado? – “Aquela dona. ali sabe, mas tem preguiça de falar. Ela é tão antiga quanto eu”. O comerciante, já do lado de dentro do quiosque, nos mostra todos os tipos de ervas e garrafadas, que segundo ele, curam desde o corpo até a alma.

Depois de falar detalhadamente sobre cada uma de suas “mágicas” garrafas, nos faz entrar no pequeno espaço e olhar de perto cada uma daquelas exóticas raízes.




Olhar do repórter

Quando acabamos nossa visita era notório o ar de satisfação, e foi assim, nesse clima, que deixamos o “novo-velho” Mercado.
Milhões de histórias fazem barulhos, se misturam e se complementam. Ganhamos a confiança de outros personagens. Assim que eles descobriram que nossos motivos não eram uma simples curiosidade, estórias e histórias foram surgindo como a de seu Toim, seu Francisco e seu Abacate – semelhantes e diferentes, todas sedentas de ouvidos para serem contadas - Quem visitar o Mercado São Sebastião, pode conhecer um pouco mais desse ponto turístico e tirar suas próprias impressões.

 Seu Toim "o médico do mercado" -Foto - André Silvestre

Seu Toim transmite sabedoria -Foto - André Silvestre

                                        Foto - Heliana Querino



Transitando pelo Mercado São Sebastião

 


Galeria de fotos







Pauta: Mercado São Sebastião 
Reportagens: André Silvestre , Ana Hadassa, Edilane Pereira, Heliana Querino. Edição: Katiane Mendes. Fotografia e Vídeo: André Silvestre, Heliana Querino.





Fazendo parte da rotina do Mercado São Sebastião.


Nas manchetes dos jornais o Mercado São Sebastião tem muitas histórias interessantes em mais de um século e meio de existência.



História

            A Praça São Sebastião já foi palco dos circos Nerino, Thiany e Garcia e espaço também de peladas de futebol.
O mercado, que hoje é administrado pela Sincofrutas, conforme o disposto na Lei Municipal nº 8.072/97, responsável por sua limpeza, segurança e organização, era anteriormente chamado de Mercado de Ferro, foi construído em 1897. A estrutura de ferro foi importada da Inglaterra e fabricada na França, em estilo Art Noveau. Era localizado na antiga Praça José de Alencar, foi desmontado, e remontado em parte no que é hoje o Mercado dos Pinhões, outra parte, foi em 1937 para o espaço conhecido como Paula Pessoa, ganhou parte da estrutura desmontada do Mercado de Ferro da Praça José de Alencar.
            O mercado existe há 152 anos, antes de vim para o local atual, era uma feira na Barra do Ceará, segundo conta Júlio Saraiva Leão, 61, dono de um box de frutas e verduras há 29 anos trabalhando no São Sebastião.
Júlio Saraiva

            A última grande reforma no mercado, foi em 1997 feita pelo então Prefeito Juraci Magalhães, o arquiteto responsável foi Fausto Nilo, na reforma foi ampliado à capacidade do espaço e hoje já conta com 440 boxes. Se antes eram somente frutas, verduras e carnes como carro chefe de produtos, hoje existem outras variedades.

A variedade dos boxes

  O Mercado São Sebastião que se localiza entre as ruas Meton de Alencar, Teresa Cristina, General Clarindo de Queiroz (onde também se localiza o Sesc) e a avenida Padre Ibiapina, próximo à avenida Duque de Caxias. Funciona de segunda a sábado de 07h Às 19 h e domingo de 7h à 12h e tem artesanato, plásticos descartáveis, raízes, castanhas, ferragens, material elétrico, hidráulico e de construção. Além de lanchonetes, farmácia e o estacionamento no subsolo e no setor térreo para carros e outro para motos.
            Um desses estabelecimentos faz sucesso todos os dias da semana, é o ponto de encontro de várias famílias. O restaurante São Francisco é uma tradição, passado de mãe para filha. Dona Neusa, “rainha da buxada” se aposentou e deixou sua filha Maria Vicente de Oliveira, 47 anos e hoje já está há 15 anos no ramo.
Maria Vicente

Dentro do Polo Gastronômico localizado no mercado, o restaurante é famoso. Tem gente que frequenta ele há muito tempo, veio primeiro com a namorada, depois casados, vieram os filhos e hoje vêm os netos.
            Josmar Freitas, 65 aposentado do Banco do Brasil, vem de Horizonte para provar as comidas típicas, “como língua de boi, carne de porco, panelada o que tiver gostoso eu como”, disse enquanto degustava o seu almoço de domingo.
            Maria Vicente oferece aos seus clientes, além do caldo de mocotó, para curar a ressaca, o prato “cabeça de carneiro”, um prato exótico, conhecido como Viagra Natural. Por ser um “prato nojento” virou documentário da Discovery, se orgulha sua proprietária.

Os personagens

            Quem frequenta o Mercado São Sebastião consegue rapidamente fazer amizades, pois esta num lugar acolhedor. Consuelo Cavalcante Silva, 65 anos, empresaria relata que além das amizades, pode comprar tudo que procura, seja frutas, cereais. “aqui é até melhor que os mercantis”, diz enquanto escuta o bom som de Chico Anizio, 46 anos.
            Tocador de velha sanfona comprada ainda por 150 cruzeiros, sempre esta aos sábados e domingos no Mercado São Sebastião, Chico veio de Itapiuna, ainda menino e é deficiente visual, o que não lhe impede de ganhar seu pão honestamente naquele espaço.

Chico Anizio from carlosemanuel on Vimeo.

Outra figura interessante é o Júlio Saraiva, que é Vice-Presidente do sindicato do Mercado São Sebastião e ainda por cima, tem um boxe é radialista, ator do quadro Brega City do Clube do Brega da TV Diário, além de já ter servido o Ex-Presidente JK e o Vice-Presidente Norte-americano Ronald Reagan.” Sei gastronomia oriental, francesa, faço vários pratos japoneses, trabalhei como açougueiro nas casas da banha no Rio de Janeiro, fui criado com angu e tabefe” diz todo orgulhoso.
Vicente Lopes


Outras Profissões

            Nem só quem trabalha nos boxes do São Sebastião, tira lucro dele, temos ao seu redor os serviços que ajudam como auxilio. Têm os vendedores ambulantes de café e chá, jogos de azar, o milho, o sebo de livros que fica na Praça Paula Pessoa ao lado do Mercado.
            Agora quem mais fatura nesse setor paralelo são os taxistas, um exemplo é Gonçalo Santiago, 71 anos, acostumado a pegar passageiros que fazem suas compras no mercado. Apesar de ter sustentado esses anos todos os seus onze filhos com esse trabalho, ele fala do susto que teve na sua profissão. “uma vez um rapaz me pegou na Crasa e me assaltou com a faquinha de mesa. O ladrão me perguntou tio você que me furar? Tio você que seu dinheiro de volta? Eu disse não, ainda ofereci carona a ele porque é perigoso onde ele desceu”.
Ponto de táxi, Mercado São Sebastião

            O serviço de táxi funciona com uma organização dos próprios taxistas. Eles escolheram dois deles para fiscalizar o trabalho. Todo dia são distribuídas as senhas para eles. Assim evita o problema de  correr atrás do cliente. Quem quebrar a regra fica suspenso de trabalhar por dois dias.



O Assalto rompe a tranquilidade

O dia 08/03, tinha tudo para ser um dia comum, como os outros dias para os trabalhadores e clientes do Mercado São Sebastião, mas um tiroteio já no fim da tarde interrompeu o ambiente tranquilo e deixou as poucas pessoas na fila da lotérica, dentro do próprio mercado, em pânico.
            O saldo do dia seria a morte de um vigilante e de um dos assaltantes, além de três pessoas feridas. Antônio Narciso, 59 anos e há 40 anos com uma banca de revistas e livros velhos, presenciou o “bang bang”.
            A banca “Tic Tac dos relógios” foi atingida com três tiros. Seu proprietário Manuel Barroso que na hora já tinha ido embora, comemorou ter escapado de levar um disparo. “um relógio de parede amorteceu os tiros” relembra.
Tic Tac dos relógios e as marcas de tiros

A rotina do lugar foi brutalmente modificada. Um dos meliantes passou o dia disfarçado como entregador de panfletos no centro do mercado, enquanto estudava a rotina dos comerciantes e seguranças do local, no fim da tarde, às 17 h, quando a maioria dos comerciantes e fregueses já havia deixado o mercado, dois bandidos encontravam-se ocultos entre os clientes da casa lotérica, que faziam fila para pagar suas contas pessoais.
Os assaltantes estavam em grupo de oito homens fortemente armados, estavam munidos até de uma submetralhadora, e eram bem organizados, pois estudaram o mercado e suas adjacências antes de agirem.
A transportadora de valores Corpvs, localizada na Avenida Luciano Carneiro, 2655, no bairro do Aeroporto, havia ido recolher o apurado do dia, quando, sem anunciar assalto algum, os marginais que estavam entre os clientes na fila, dispararam suas armas, um dos seguranças morreu no local. Seu nome era Carlos Henrique Nascimento Rodrigues. Conforme a comerciante Raquel Gaspar, 43 anos, comerciante da Bomboniere São Sebastião, “Temos dois policiais (PMs), dois da guarda civil e os fiscais. À tarde ficam só os dois policiais no mercado.”
Houve intensa troca de tiros entre seguranças, os dois PMs e os bandidos, um deles fugiu com um malote contendo o valor de R$ 55.130, 00. O assaltante trocou tiros com o RAIO e o pelotão de motopatrulhas do CPC e foi alvejado, correu por cerca de 300 metros e tombou sem vida na Rua General Clarindo de Queiroz. Além do dinheiro, com ele foi encontrada uma pistola Glock, de fabricação Austríaca, de calibre 9 mm, e uma ponto 45. O bandido foi identificado como Luis Thalysson Rodrigues de Oliveira, vulgo “Playboy”.
Os outros integrantes da quadrilha capturados foram Gutiélio Madeira da Silva, vulgo “Cachorrão”, Também foram presos meia hora depois do fato Lucas Martins Soares, Renato César Rodrigues Nunes e Rafael Costa Souza, todos acusados de latrocínio. Juscelino Costa da Fonseca, o “Celino”, e seu irmão Joelino Costa da Fonseca, o “Juca”, foram presos posteriormente ao assalto pela DRF (Delegacia de Roubos e Furtos) e pela COIN. Ambos fugitivos de uma das CPPLs e com envolvimento em assaltos a bancos e carros-fortes. 
Durante a ação os criminosos se desfizeram de várias armas, a submetralhadora Uzi 9 mm, de fabricação israelense, foi encontrada depois no Jardim do Beto no interior do mercado, uma pistola 9 mm e um revólver calibre 38 foram encontrados no calçadão do mercado, e havia também uma mochila recheada de pistolas que foi encontrada no setor das carnes.
Segundo Michel Aragão, 30 anos, guarda municipal, na páscoa aumentam os assaltos devido à grande demanda por peixes naquele período. Mas este foi o primeiro assalto com tamanho nível de violência e exposição na mídia.
Como declarou o microempresário Ivanildo Nascimento, de 28 anos, proprietário da Casa do Queijo, “Não me sinto seguro no mercado”. A loja de Ivanildo fica vizinha à casa lotérica assaltada, por pura sorte ele já havia ido embora durante a ação dos criminosos. Mais sorte ainda teve André Freitas, 35 anos, vendedor da Fermil – Material de Construção, pois ele e mais dois colegas atrasaram em fechar as portas naquele fim de tarde. Resolveram fechar justo na hora do assalto e tiveram tempo de se abrigar dentro do estabelecimento.
Um detalhe que chamou muito a atenção foi que durante a apuração desta reportagem, muitas pessoas se negaram a dar qualquer declaração sobre o assunto, talvez temendo represálias do crime organizado.



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Por Roberto Eduardo, Carlos Emanuel, Jardson Castro, Maria de Fátima José da Silva e Priscila Ramos

Mercado São Sebastião: um patrimônio em risco

Israel Gomes, Alyne Lins, Hérika Vale, Thiago de Sousa e Aled Parry

As milhares de pessoas que frequentam diariamente o Mercado São Sebastião, no Centro de Fortaleza, podem não perceber, mas o estabelecimento precisa urgentemente de uma reforma. Desde que foi inaugurado há 15 anos, o prédio nunca passou por uma vistoria.

E problemas estruturais não faltam. Segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Frutas e Verduras de Fortaleza (Sincofrutas), administrador da área comum do Mercado, o telhado está comprometido, com goteiras em várias partes do prédio; os banheiros também necessitam de uma reforma; e faltam extintores de incêndio e hidrantes.
O trabalho dos comerciantes e de quem faz o Mercado
começa bem cedo (Foto:Hérika Vale)

Ainda de acordo com o Sincofrutas, o dinheiro do aluguel dos boxes vai para a prefeitura e não há nenhum de tipo de repasse. Para pagar os mais de 50 funcionários e manter a limpeza do prédio, o sindicato utiliza a renda arrecadada com o estacionamento.

A situação do Mercado já foi comunicada à administração municipal. Mas, segundo o órgão, são feitas somente promessas para solucionar esses problemas. “Nós não podemos impor nada, só pedimos. Vai da boa vontade deles”, afirmou Marcos Dutra, funcionário do Sincofrutas e administrador do equipamento.

A Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), órgão da Prefeitura da Capital que responde pelo prédio, informou que a demora é devido à mudança de gestão. No segundo semestre deste ano, segundo a instituição, estão previstas visitas para mapear as deficiências. Ainda em 2013, o estabelecimento  será desvinculado da Seuma, e a  Secretaria Executiva Regional do Centro (Secefor)  estará à frente da reforma do São Sebastião, sendo a nova administradora geral.

À reportagem, o major Hans, do Corpo de Bombeiros de Fortaleza, disse que uma vistoria estava prevista para a tarde desta terça-feira, 21. Só após as conclusões  dessa perícia é que as providências serão encaminhadas para os responsáveis. Entre os itens observados, estão a presença de brigadistas, extintores de incêndio e hidrantes. O laudo preliminar deve sair na manhã desta quarta-feira, 22.

Alheias à má conservação

Essas milhares de pessoas que transitam pelo Mercado não percebem as dificuldades estruturais devido aos baixos preços e à grande diversidade de produtos oferecidos, que são os maiores atrativos do local.
A falta de conservação do piso de metal põe em risco a segurança
de quem utiliza a passagem das escadas laterais (Foto:Thiago de Sousa)

O São Sebastião é formado por 449 boxes, desse total 250 estão ocupados. A Prefeitura é que faz o cadastro dos permissionários e os valores do aluguel variam de acordo com o piso e localização, sendo R$ 70 mensal  o boxe mais barato encontrado por nossa equipe.

Madrugadores

“A gente chega aqui três horas da manhã, e começa a descarregar e carregar um monte de caminhão que está aqui só esperando a mercadoria. Aqui todo mundo é unido, quase todo mundo mora longe, lá no Araturi, pega topic, ônibus, carona pra chegar e não perder a hora”. As palavras do seu Francisco Augusto da Silva, 52, ou seu Carlos, como é conhecido, mostram um pouco da luta diária que os trabalhadores travam de segunda à segunda para garantir seu sustento e de sua família.

Segundo seu Carlos, o ganho é de R$ 60 por dia, um total de R$ 1.800 por mês, trabalhando 10 horas diárias sem descanso, e nenhum benefício trabalhista garantido por lei, como férias e 13º salário.
Seu Carlos é carregador de frutas e verduras no pátio
do São Sebastião (Foto: Hérika Vale)

Mas, também tem gente que se dá muito bem no comércio de frutas do Mercado, como Neide Bráz, 40, que traz frutas das Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa) há dez anos para vender e chega a faturar de R$ 5 a R$ 10 mil por dia.

Luís de Gonzaga, 67, potiguar, começou a trabalhar no Mercado aos 27 anos. Atualmente, ele vende frutas na parte externa, e paga R$ 25 diarimente por um pequeno espaço no local. Sua jornada começa às 4h e vai até 8h, quando área é desocupada pelos fiscais.


Quem passa por lá não encontra somente frutas e verduras
 
O aposentado Luís Melo, 70 , é um dos vendedores mais procurados no Mercado, sua especialidade é a carne bovina, e ele se orgulha da profissão, afinal foi com esse trabalho que criou os filhos e mantém ainda hoje a família.

Em meio a um ambiente tipicamente masculino, Marlene de Oliveira, 35, pernambucana, vende goiaba, uva, manga e maracujá no atacado, produtos que traz toda semana de seu estado para a sua clientela cearense.

Os clientes do Mercado, em qualquer dia da semana, como o casal Eduardo José, 36, e Carmina Loiola, 34, aproveitam para fazer as compras da semana  e comer uma boa panelada “ É a melhor panelada da cidade”, afirmou Eduardo.

Ana Moreira, 33, faz alegria dos turistas. Dona de uma loja de produtos regionais, ela oferece para os frequentadores panelas de barro, colheres de pau, abanos feitos de palha de coco, fumo em rolo e artigos de umbanda, entre vários outros utensílios de uso doméstico.

Vida de vendedor

O repórter Thiago de Sousa encarou o desafio de ser vendedor de frutas por algumas horas, no São Sebastião. Assista ao vídeo:


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A alegria do Mercado

Entre as muitas figuras curiosas que transitam e trabalham no Mercado, seu Júlio Saraiva Leão certamente é a mais cativante de todas. Proprietário de uma banca de frutas há 29 anos, ele faz questão de contar suas histórias para os novos clientes e receber sempre com um sorriso os antigos.
Júlio apresenta sua banca (Foto: Thiago de Sousa)


Com orgulho, seu Júlio contou que já morou no Japão, foi garçom do ex-presidente Juscelino Kubistchek, e há três anos se dedica à carreira de ator, interpretando um padre no seriado "Brega City", do programa "Clube do Brega", da TV Diário.

Pai de três filhos, todos já formados, ele disse que foi eleito vice-presidente do equipamento pelos próprios permissionários e por unanimidade.



Mercado São Sebastião em imagens
   
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Serviço:

Mercado São Sebastião
Endereço: Rua General Clarindo de Queiroz, 1745 - Centro, Fortaleza – CE
Telefone: (85) 3468-1600
Horário de funcionamento: 5h às 17h (seg. a sáb.); 5h às 12h (domingos e feriados)

O que encontrar:

Frutas, verduras, carnes, plantas, artesanato, comidas típicas, material elétrico, utensílios domésticos, etc.