Panorama: Garrafada – Os Mistérios do “Remédio” mais Popular do Nordeste

terça-feira, 21 de maio de 2013

Garrafada – Os Mistérios do “Remédio” mais Popular do Nordeste

Garrafadas expostas no Mercado São Sebastião - Foto: David Magalhães
Em meio às páginas com os nomes dos fregueses que compram fiado, estão as receitas de uma das maiores crendices nordestinas. A caderneta de seu Antônio Bruno (52), proprietário de um dos três boxes que vendem as populares garrafadas no mercado São Sebastião, para muitos, vale mais que qualquer livro de medicina. Naquelas simples e desgastadas folhas estão a promessa de cura rápida e natural.

As garrafadas, como ficaram popularmente conhecidas os concentrados de ervas medicinais armazenados em garrafas de vidro, sempre povoaram o imaginário popular. Por semana, boxes como o de seu Antônio, aberto todos os dias das 6h ás 12h, vendem em média 70 garrafadas das mais variadas finalidades, com preços que variam de R$6 à R$12. As mais procuradas são as que prometem combater doenças no fígado, rins, útero e sangue. “Vem muita gente comprar e de todas as idades, eu trabalho aqui no mercado há 44 anos e ainda não fiquei rico, nem vou ficar, pelo menos não financeiramente, mas eu tenho orgulho do que eu vendo. Aprendi essa arte com o meu pai e já repassei para os meus filhos”, relata seu Antônio.

Ao comprar a garrafada o cliente recebe orientações detalhadas dos vendedores, também conhecido como os raizeiros. É quase uma consulta, com direito a uma dieta regrada para cada tipo de produto. Dona Graça (61), freguesa de seu Antônio há quase 20 anos, afirma que sempre recorreu as garrafadas para seus problemas de saúde. “Olhe, desde moça eu bebo garrafada, por causa que eu tinha um probleminha no meu útero, nunca fui pra médico por causa disso, e nem morri, pelo contrário, tive foi logo quatro filhos. Eu é que não deixo de tomar uma coisa dessa que é natural, pra tomar esses remédio de sal”. 

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No entanto, muitos médicos e farmacêuticos condenam as garrafadas, afirmando que elas não têm efeito comprovado cientificamente e pode até causar riscos á saúde. “É um produto feito de forma artesanal, sem qualquer procedimento higiênico mais efetivo e isso pode afetar ou até mesmo agravar a saúde dos consumidores. Além de que, as raízes e ervas podem ter seus efeitos eliminados quando há uma determinada mistura, principalmente nas garrafadas que contém álcool, por que ele inibe qualquer valor medicinal que o produto poderia ter”, é o que afirma o farmacêutico Carlos Luís.

Outro grande problema apontado pelos profissionais da saúde é que as pessoas que consomem as garrafadas acabam criando uma ilusão de que estão curadas e muitas vezes a doença continua ali e com o passar do tempo vai se agravando e ficando mais difícil qualquer tratamento.

Entre tantas polêmicas, o fato é que a garrafada habita a cultura popular e sobrevive às gerações. Uma garrafa carregada de mistérios, onde muitos acreditam ter o mapa do tesouro dentro dela, ou quem sabe se esfregar possa até sair o gênio da lâmpada e conceder o que todos os que a compram almejam: a cura. Se vai funcionar ou não...

David Magalhães
Ingridy Holanda
Julia Davila
Talita Menezes 

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