Panorama: Gigante pela própria natureza

terça-feira, 21 de maio de 2013

Gigante pela própria natureza




Sediado no Centro de Fortaleza, o Mercado São Sebastião é um equipamento público municipal administrado pelo Sindicato do Comércio Varejista de Frutas e Verduras de Fortaleza (Sincofrutas), reformado e inaugurado no final de 1997 durante a gestão do prefeito Juraci Magalhães. O estabelecimento funciona onde anteriormente funcionava o antigo Mercado de Ferro, inaugurado na segunda metade do século XVII, em 1897.


Mercado São Sebastião. Foto: Jonas Guedes.

Inicialmente, o mercado era dedicado principalmente ao comércio de frutas, verduras e carnes. Hoje, o estabelecimento, que fica alojado em toda a extensão da Praça Paulo Pessoa, conta com 449 boxes que comercializam artesanato, plásticos, raízes, descartáveis, materiais elétricos, ferragens, materiais hidráulicos e de construção. Possui também uma rede de lanchonetes que circundam todo o térreo e parte do 2º piso, além de farmácias, uma agência lotérica e estacionamento. Todos distribuídos em uma área de 22.538 m² dividido em subsolo, térreo e 2º piso.


Banca de frutas e legumes. Foto: Daniel Araújo.


Roupas também fazem parte do comércio do mercado.
Foto: Daniel Araújo.

Essencialmente miscelânico, o Mercado São Sebastião oferece uma enorme diversidade produtos e serviços, além de uma paleta diversa de pessoas, sejam essas comerciantes, transeuntes ou fregueses,  que ao longo dos anos vêm construindo a história deste imponente prédio.

Algumas dessas figuras se encontram há mais tempo no local, outras iniciaram as atividades a menos tempo – há meses em alguns casos. São variadas gerações que encontram nesse comércio uma forma de garantir alguma receita ou afirmar sua vocação de comercializar.

Essa predisposição aos serviços trouxe Diomésio Santos, 76 anos, para dentro do mercado. Veterano, ele conta que trabalha no ramo de frutas e verduras desde o final da década de 1950. Durante esse período, passou um tempo trabalhando no comércio da cidade de Camocim e resolveu voltar à capital em 1962 onde iniciara os trabalhos no antigo Mercado São Sebastião, conhecido pelos comerciantes como “Mercado Velho”.

Rememorando o tempo passado, Diomédio explica que o São Sebastião foi o primeiro mercado a comercializar legumes e frutas em larga escala. “Quando comecei a trabalhar aqui só havia o São Sebastião e o Mercado São José. Não havia grandes mercantis”, atesta.

Mesmo com o crescimento populacional e a consequente expansão das redes de supermercados na cidade, o comerciante acredita que o mercado ainda sobreviva por muito tempo devido a sua tradição. “O São Sebastião era e ainda é conhecido por boa parte da população. Nossos clientes são cativos e variam entre pessoas comuns ou até mesmo autoridades. “Aos domingos até o Roberto Cláudio frequenta o lugar. Por duas vezes o vi comendo panelada bem ali”, relata, apontando para o quiosque de comidas regionais.


Outras vozes

Há poucos metros das frutas e orgânicos de Diomésio Santos, há um pequeno corredor tomado por peças feitas de gesso e argila. Os utensílios são comercializados por Maria de Lourdes, 54 anos. Dona Leninha, como é conhecida no São Sebastião, trabalha com artesanato desde os 14 anos. Ela afirma que procura precificar os produtos de acordo com as suas especificidades. “Aqui o cliente pode encontrar jarros de R$ 0,80 a R$ 40,00”, exemplifica. Segundo ela, os cearenses ainda são o público que mais frequenta a “Casa do Artesanato” e adquire as peças vindas diretamente de Ipu, Cascavel e Aracati.


Gessos e Argilas comercializados por Maria de Lourdes. Foto: Daniel Araújo.


Gessos e Argilas comercializados por Maria de Lourdes. Foto: Daniel Araújo.


Produtos Naturais do box "Arara Azul".  Foto: Daniel Araújo.
Subindo ao 2º piso, em uma estrutura que conta ainda com subsolo e térreo, o letreiro acima da porta de acesso ao bloco C aponta: “Arara Azul-Produtos Naturais e Regionais”. No box de pouco mais de dois metros de largura e quatro metros de extensão é possível encontrar vários tipos de produtos naturais entre gêneros alimentícios e ervas medicinais.

Atuando como atendente na loja a pouco mais de quatro meses. Kelly Nobre, 32 anos, conta que o segmento alimentício é o mais  procurado pelos visitantes do mercado. “E pelo menos 50% deles são cearenses”, ressalta. Entretanto, a jovem não deixa de reconhecer que as condições do trabalho desenvolvido, não só pela Arara Azul, mas como dos demais comerciários, poderiam ser potencializadas caso a estrutura do prédio passasse por uma reforma.

A observação de Kelly não é caso isolado. A necessidade de melhorias fica evidente quando falamos de pontos essenciais. Em umas das escadas que dá acesso ao 2º piso do prédio notamos que a ferrugem já corrói boa parte da estrutura. Degraus e a base encontram-se seriamente comprometidos. “É preciso melhorar muito. Os banheiros, por exemplo, não são muito bons”, reforça a vendedora.

Mas se o mercado ainda possui desafios a superar, o espírito de cooperativismo entre os comerciários se sobrepõe como traço diferencial do equipamento. “As pessoas aqui são muito legais, desde o presidente até zelador”, pontua, entre um atendimento e outro que realizava àquela tarde.

Cumplicidade

Esse sentimento de cumplicidade é o mesmo que rege os negócios de Cosmo Praciano Paiva. Ele afirma que sua relação com o comércio, iniciada em 1963 só prospera devido à clientela. “Devo tudo a meus clientes porque são pessoas boas e agradeço a Deus por isso”, afirma fitando o cigarro em um tom de confidencia. Localizado no bloco C do 2º piso, o box do veterano comerciante traz à ala o toque regional com uma variedade de utensílios, ervas e produtos alimentícios.

E entre as esperanças e perspectivas dessas pessoas que personificam o mercado oficializando sua história na medida em que reafirmam as suas próprias estão o desejo de que anova gestão que se inicia apresente novas propostas de revitalização para o “velho gigante”. “O mercado precisa de uma reforma já que refazê-lo não seria possível. E toda obra tem de ser reparada senão cai, viu?!, alerta Praciano.


Segurança

A segurança do mercado fica por responsabilidade do Sincofrutas. Um segurança monitora a área durante todo o dia, garantindo maior tranquilidade aos trabalhadores. A noite, o monitoramento é ampliado, uns número maior de seguranças resguardam o patrimônio. Otto Bezerra, 22 anos, trabalha como segurança diurno do local há 4 meses. Otto conta que as ocorrências normalmente não são graves e nem com frequência. Além disso, a Guarda Municipal e o Ronda do Quarteirão estão sempre apostos para qualquer auxilio.


Altar de São Sebastião

Devota de São Sebastião, Dona Elita, que trabalha há 13 anos como supervisora dos serviços gerais do mercado, se reuniu com os comerciantes e juntos tiveram a idéia de construírem um altar em homenagear ao santo que dá nome ao estabelecimento. Fiéis, sejam eles comerciantes ou clientes, depois de suas orações e preces depositam moedas em um cofrinho ao lado do santo, visando à arrecadação de dinheiro para a Festa do Santo, realizada no local anualmente, no dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião.


Dona Elita posa em frente ao Santuário de São Sebastião.
Foto: Jonas Guedes.

O Mercado São Sebastião é um lugar onde as estórias de cada comerciante, cliente e visitante se entrecruzam em meio a uma proposta de oferta simbiótica dos serviços. A sua estrutura opulenta que se estende por volta de toda a Praça Paula Pessoa possui, de fato, a dimensão da proposta do equipamento.

Seja durante as manhãs ou tardes de nossa cidade, o velho Sebastião oferece soluções a quem busca fazer sua feira; uma aposta na lotérica ou comprar materiais de construção e todo e qualquer tipo de ervas medicinais, castanhas, mel, rapaduras e demais utensílios que possamos imaginar.  Mas aos que desejarem ir além do imaginário, mais vale a experiência de entrarmos nas entranhas desse “gigante”. Ele é nosso, e dele devemos nos apoderar.

Serviço

Mercado São Sebastião
Rua Clarindo de Queiroz, 1745- Otávio Bonfim
Telefone: (85) 3468. 1600


Por: Samily Sousa, Samara Veras, Kislianny, Jonas Guedes e Daniel Silva.

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