No dia da experiência
Daniel Silva
Naquela noite de terça-feira, 28, cheguei à Faculdade no
horário que usualmente costumava chegar: 18h25min. Entretanto, aquele turno
estaria longe de ser visto como habitual. A tomar pelo jogo de luzes que
recobriam o prédio da instituição, a impressão inicial era a de que um grande
evento metamorfoseava a casual atmosfera acadêmica. De fato, não era impressão.
Era o dia da experiência na Faculdades Nordeste (Fanor).
E como bem nos explica a lógica do complexo de vira-latas,
da proposta de um dia de experiências na faculdade temos o evento intitulado
Experience Day. Em suma, trata-se de um projeto trabalhado pela empresa há mais
de oito anos. Na ocasião, tanto alunos quanto o público em geral podem participar
de programação que engloba atividades lúdicas, palestras, workshops e
apresentações artísticas.
É quando falamos de arte que desaguamos na minha experiência
particular com o Experience Day. Antes,
vale o registro cronológico de que ainda eram antes das 19 horas quando à
faculdade eu já me encontrava. O fluxo intenso de pessoas entre secundaristas,
pós-egressos e veteranos, todavia, não deixava dúvidas: o evento estava sendo
exitoso. Ao menos assim parecia aos espectadores que faziam platéia à banda que
cumpria o preâmbulo à palestra que Max Gehringer daria horas depois.
Mas não havia ido à Praia do Futuro em função do que o
renomado consultor tinha a dividir àquela noite. Muito menos para ouvir o
repertório couvert dos colegas que seguiram no palco até às 20 horas. Pelo
menos essa foi a última vez que consultei o relógio antes de sair dos domínios
da instituição. Eu tinha ido à faculdade para cumprir meu dever enquanto
graduando. Foi quando às 19h10min encontrei, à sala 211, apenas eu comigo
mesmo. Ninguém havia chegado ainda.
E nem chegaria. Sentado do lado de fora, fiquei até às
19h31. Mais uma conferida no relógio e cheguei à conclusão de que, naquela
noite, não haveria aula. Mas por que as salas ao lado pareciam tão lotadas? E
por que, de fato, havia tanta gente nas demais salas? Questionei-me antes de
deixar em definitivo os domínios da instituição. E à medida que ia me afastando
do prédio, após pouco mais de uma hora perambulando pelos corredores, o
repertório da banda, que àquela noite arranhou do Balão Mágico ao Franz
Ferdinand, foi se tornando, enfim, distante.
A Caminho do terminal de ônibus, o dia da experiência, pra
mim, talvez não tivera a mesma conotação para quem conseguiu ficar até o final
do evento. No dia seguinte, a história que ouvi foi a de que Gehringer chegou a
chorar durante a palestra. Isso deve ter sido forte, confesso.
Fazendo o caminho inverso, terminei aquela noite entre as
estantes de livros e DVDs da Livraria Cultura. As horas, ali sim, pareceram ter
passado rápidas. E no retorno para casa, trazia eu em minha sacola “Uma mulher é uma mulher”, meu 16° filme dentro da videoteca que intento montar. Isso me
leva à conclusão de que o dia da experiência, pra mim, encerrou-se com uma veia
bem intimista. Tão banal e marcante como numa sequência de um Godard.
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