Panorama

sexta-feira, 31 de maio de 2013


No dia da experiência



Daniel Silva


Naquela noite de terça-feira, 28, cheguei à Faculdade no horário que usualmente costumava chegar: 18h25min. Entretanto, aquele turno estaria longe de ser visto como habitual. A tomar pelo jogo de luzes que recobriam o prédio da instituição, a impressão inicial era a de que um grande evento metamorfoseava a casual atmosfera acadêmica. De fato, não era impressão. Era o dia da experiência na Faculdades Nordeste (Fanor).

E como bem nos explica a lógica do complexo de vira-latas, da proposta de um dia de experiências na faculdade temos o evento intitulado Experience Day. Em suma, trata-se de um projeto trabalhado pela empresa há mais de oito anos. Na ocasião, tanto alunos quanto o público em geral podem participar de programação que engloba atividades lúdicas, palestras, workshops e apresentações artísticas. 

É quando falamos de arte que desaguamos na minha experiência particular com o Experience Day. Antes, vale o registro cronológico de que ainda eram antes das 19 horas quando à faculdade eu já me encontrava. O fluxo intenso de pessoas entre secundaristas, pós-egressos e veteranos, todavia, não deixava dúvidas: o evento estava sendo exitoso. Ao menos assim parecia aos espectadores que faziam platéia à banda que cumpria o preâmbulo à palestra que Max Gehringer daria horas depois.

Mas não havia ido à Praia do Futuro em função do que o renomado consultor tinha a dividir àquela noite. Muito menos para ouvir o repertório couvert dos colegas que seguiram no palco até às 20 horas. Pelo menos essa foi a última vez que consultei o relógio antes de sair dos domínios da instituição. Eu tinha ido à faculdade para cumprir meu dever enquanto graduando. Foi quando às 19h10min encontrei, à sala 211, apenas eu comigo mesmo. Ninguém havia chegado ainda.

E nem chegaria. Sentado do lado de fora, fiquei até às 19h31. Mais uma conferida no relógio e cheguei à conclusão de que, naquela noite, não haveria aula. Mas por que as salas ao lado pareciam tão lotadas? E por que, de fato, havia tanta gente nas demais salas? Questionei-me antes de deixar em definitivo os domínios da instituição. E à medida que ia me afastando do prédio, após pouco mais de uma hora perambulando pelos corredores, o repertório da banda, que àquela noite arranhou do Balão Mágico ao Franz Ferdinand, foi se tornando, enfim, distante.

A Caminho do terminal de ônibus, o dia da experiência, pra mim, talvez não tivera a mesma conotação para quem conseguiu ficar até o final do evento. No dia seguinte, a história que ouvi foi a de que Gehringer chegou a chorar durante a palestra. Isso deve ter sido forte, confesso.

Fazendo o caminho inverso, terminei aquela noite entre as estantes de livros e DVDs da Livraria Cultura. As horas, ali sim, pareceram ter passado rápidas. E no retorno para casa, trazia eu em minha sacola “Uma mulher é uma mulher”, meu 16° filme dentro da videoteca que intento montar. Isso me leva à conclusão de que o dia da experiência, pra mim, encerrou-se com uma veia bem intimista. Tão banal e marcante como numa sequência de um Godard.

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